sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cães e Barbárie no Brasil Profundo


Quando começamos um texto que se pretende instigador de reflexão é necessário, minimamente, manter certa objetividade e afastamento emocional do objeto e tema tratado. Aviso que não é o caso aqui. Vendo a reportagem sobre a cidade de Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó, no Pará, onde o prefeito Marcelo Pamplona do PT propôs para uma população que vive em extrema miséria capturar cães em troca de dinheiro – especificamente 5 reais para cachorros e 10 reais para cadelas, entendo que é impossível não ser passional para falar do assunto. Me senti na Idade Média, estou enojada e com raiva. Literalmente.
Segundo um morador que filmou e denunciou tal absurdo até o momento da reportagem mais de 100 animais já foram mortos pelos moradores e aproximadamente 200 teriam sido levados para uma ilha sem água e comida. A reportagem do SBT local mostra cenas de grupos capturando de forma animalesca os cães, vários cães presos pelo pescoço em cercas esperando pela matança, outros tantos cães mortos boiando nas águas e alguns tentando escapar desesperadamente. O diretor do Centro de Zoonose de Belém afirma ainda que cães foram roubados até de dentro das casas.
A notícia não tem como ficar pior. O poder público – representado pelo prefeito da cidade - ao invés de desenvolver uma política pública de recolhimento e castração dos animais, estimula o extermínio coletivo, e pior da forma mais animalesca e bárbara possível. Coloca uma população em extrema miséria na condição de algozes dos animais em troca de míseros reais. Não sei o que é pior. A falta de bom senso, a falta de entendimento de administração pública e da função social da prefeitura, a pobreza que dá condições para tal situação existir ou o atual estágio de desumanização em que nos encontramos?
O mais grave é que vivo atualmente numa cidade com o mesmo problema, superpopulação de cães e que invariavelmente aparecem constantes denúncias de ataques de cães à população.  A Prefeitura – fica claro, há tempos não faz nada – e na UFG já ouvi da boca de funcionários públicos que “dariam um jeito rapidinho” se deixassem. Eles também não sabem a função social de uma Universidade Pública perante sua comunidade! Inclusive a culpa pelo excesso de cães recai naqueles que cuidam dos animais levando comida, dando banho e até tratamento médico. É uma inversão total de papéis. A sociedade civil deveria cobrar e exigir uma ação pública daqueles que foram eleitos para tal.
Enquanto isso, no relativo atraso de nosso Brasil profundo, um prefeito propõe uma bizarra e bárbaro genocídio coletivo e a Delegacia do Meio Ambiente do Pará vai investigar o caso. Os culpados podem pegar um tempo irrisório de prisão ou ter pena convertida para prestação de serviços. Ora, me pergunto, quem é o culpado? A pobreza ameaçadora, a desumanização a que estamos submetidos deixando o homem insensível perante a vida, um poder público medíocre e imbecializado na figura de um prefeito bronco? Como dizia uma grande amigo “em dez anos estaremos na idade média”... não precisou tanto tempo. Ou o Haiti é aqui?

PS1. Evidentemente que quando a notícia tomou proporções gigantescas, Globo e outros portais, o prefeito lançou uma nota negando o fato. AH! Claro, foi um surto espontâneo da cidade – os moradores viraram de uma hora pra outra em zumbis comedores de cachorros sem nenhum motivo aparente!Mas a primeira reportagem foi no SBT e o diretor da Zoonose já sabia o que estava acontecendo. (link abaixo)

                
PS2. Minha raiva continua e a vontade da Lei do Talião aumenta....