Quando
começamos um texto que se pretende instigador de reflexão é necessário,
minimamente, manter certa objetividade e afastamento emocional do objeto e tema tratado. Aviso que não é o caso aqui. Vendo a reportagem sobre a cidade de
Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó, no Pará, onde o prefeito Marcelo
Pamplona do PT propôs para uma população que vive em extrema miséria capturar
cães em troca de dinheiro – especificamente 5 reais para cachorros e 10 reais
para cadelas, entendo que é impossível não ser passional para falar do assunto.
Me senti na Idade Média, estou enojada e com raiva. Literalmente.
Segundo um morador que filmou e denunciou tal absurdo até o momento da
reportagem mais de 100 animais já foram mortos pelos moradores e aproximadamente
200 teriam sido levados para uma ilha sem água e comida. A reportagem do SBT
local mostra cenas de grupos capturando de forma animalesca os cães, vários
cães presos pelo pescoço em cercas esperando pela matança, outros tantos cães
mortos boiando nas águas e alguns tentando escapar desesperadamente. O diretor do
Centro de Zoonose de Belém afirma ainda que cães foram roubados até de dentro
das casas.
A notícia não tem como ficar pior. O poder público – representado pelo
prefeito da cidade - ao invés de desenvolver uma política pública de
recolhimento e castração dos animais, estimula o extermínio coletivo, e pior da
forma mais animalesca e bárbara possível. Coloca uma população em extrema
miséria na condição de algozes dos animais em troca de míseros reais. Não sei o
que é pior. A falta de bom senso, a falta de entendimento de administração
pública e da função social da prefeitura, a pobreza que dá condições para tal
situação existir ou o atual estágio de desumanização em que nos encontramos?
O mais grave é
que vivo atualmente numa cidade com o mesmo problema, superpopulação de cães e
que invariavelmente aparecem constantes denúncias de ataques de cães à
população. A Prefeitura – fica claro, há
tempos não faz nada – e na UFG já ouvi da boca de funcionários públicos que
“dariam um jeito rapidinho” se deixassem. Eles também não sabem a função social
de uma Universidade Pública perante sua comunidade! Inclusive a culpa pelo
excesso de cães recai naqueles que cuidam dos animais levando comida, dando
banho e até tratamento médico. É uma inversão total de papéis. A sociedade
civil deveria cobrar e exigir uma ação pública daqueles que foram eleitos para
tal.
Enquanto isso,
no relativo atraso de nosso Brasil profundo, um prefeito propõe uma bizarra e bárbaro
genocídio coletivo e a Delegacia do Meio Ambiente do Pará vai investigar o
caso. Os culpados podem pegar um tempo irrisório de prisão ou ter pena
convertida para prestação de serviços. Ora, me pergunto, quem é o culpado? A
pobreza ameaçadora, a desumanização a que estamos submetidos deixando o homem
insensível perante a vida, um poder público medíocre e imbecializado na figura
de um prefeito bronco? Como dizia uma grande amigo “em dez anos estaremos na
idade média”... não precisou tanto tempo. Ou o Haiti é aqui?
PS1.
Evidentemente que quando a notícia tomou proporções gigantescas, Globo e outros portais, o prefeito lançou uma nota negando o fato. AH! Claro, foi um surto espontâneo
da cidade – os moradores viraram de uma hora pra outra em zumbis comedores de
cachorros sem nenhum motivo aparente!Mas a primeira reportagem foi no SBT e o diretor da Zoonose já sabia o que estava acontecendo. (link abaixo)
PS2.
Minha raiva continua e a vontade da Lei do Talião aumenta....