segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ELEIÇÃO, ÓDIO, MAINARDI: OU UM FESTIVAL DE ABSURDIDADES!

     Eu nem preciso dizer que este texto foi provocado pelo festival de absurdidades que li e assisti nos últimos dias no FACEBOOK. Fiquei sinceramente pensando que aquelas pessoas que vociferaram palavras de ordem contra nordestinos, petistas, e outros seres classificados como “inferiores” no seu dia a dia são profissionais absolutamente normais, que não usam aqueles termos e palavrões, e principalmente, não saem batendo no peito com uma plaquinha dizendo “SOU RACISTA E HOMOFÓBICO”. Ainda não entendo esse fenômeno que as redes sociais produzem....Mas refletindo sobre o que interessa:

     Do que vale falarmos sobre democracia, cidadania, valores como respeito e tolerância? As pessoas entraram facilmente na onda do "LUTO" por que outro partido ganhou. Agora é hora de luta e não de luto. Para quem não sabe é isso que os movimentos sociais fazem dia a após dia, lutam seja lá quem for governo para que suas reivindicações sejam atendidas. Não ficam de luto e de mal, como CRIANÇAS MIMADAS por que perdi a eleição!!!

                                                   Tirada da capa de uma amiga

      Ora, minha principal opção de voto no 1º turno não chegou a 1% dos votos. Evidente que os partidos que estão aí não me representam. E isso me dá o direito de ofender e atacar "o outro" violentamente? Por que quando leio os ataques ao Sakamoto e ao Jean Wyllys eu me pergunto como eles suportam tanto ódio e palavras tão ríspidas? (Eu ficaria mais 20 anos em terapia)

      Vociferar ÓDIO e dizer que todos vamos nos ferrrar, por que a massa é burra e que a minha opção que era a única correta? Que o partido que ganhou é o único corrupto e acreditar que o outro é honesto, livre de escândalos, desvios e outras falcatruas? Nossa democracia é historicamente jovem e altamente frágil, ainda não foi consolidada e o que se evidenciou nesta eleição são sérios desvios e riscos para isso ocorrer. E não tenham dúvida que a burguesia e parte dessa classe média altamente controlável, apoiaria uma intervenção militar com facilidade. Vale lembrar que não são todos os PAULISTAS que estão agredindo e falando impropérios....cuidado com as generalizações!!!

   Vi vídeos terríveis de pessoas absolutamente desprovidas de bom senso atacando negros, nordestinos e gays pela vitória do PT. Li que só inúteis, mal intencionados e burros votam no PT e fiquei pensando quem sou eu nessa categorização então. Poxa, estudei tanto...

    Por vezes me ausento do debate, e só o faço por que tenho interlocutores e como professora universitária cumpro essa função social com meus alunos. Esse dialogo é sempre fundamental e necessário para olhar por outros prismas e pontos de vista. Tenho alunos liberais, amigos empresários, familiares e afins, que com uma gama ampla de justificativas votaram no Aécio. Muito compreensível e posso analisar com facilidade isso, e mais importante entendo isso dentro da estrutura social capitalista e burguesa em que vivemos. Talvez nem eles mesmo compreendam o papel que cumprem.

     MAS O MAIS IMPORTANTE é ressaltar a responsabilidade de pessoas como o senhor DIOGO MAINARDI na disseminação do ÓDIO. A leitura dele é colonial, fazendo propositadamente uma oposição entre o novo e o arcaico, entre o moderno e o atrasado para justificar os votos daquela região no PT: “BRASIL DO PASSADO, O NORDESTE SEMPRE FOI RETRÓGRADO, SEMPRE FOI BOVINO, É UMA REGIÃO ATRASADA, POUCO EDUCADA, COM GRANDE DIFICULDADE DE SE MODERNIZAR, SE MODERNIZAR NA LINGUAGEM...”
Análise simplista e extremamente equivocada que faz muito sentido para as pessoas comuns, que mal falam de política no dia a dia, nunca se dão ao trabalho de ler o noticiário político, nem as decisões rotineiras e só se envolvem em momentos extremos como esses.

             Um exemplo leve. Qual a diferença? O teor é o mesmo, apenas a linguagem mais...rude.

Por isso, as pessoas comuns, que estão vomitando ÓDIO E LUTO, são instruídas sim. Elas têm acesso a grande imprensa, assistem o noticiário televisivo noturno, ouvem os apresentadores e formadores de opinião na televisão, leem as revistas semanais. O senhor Diogo Mainardi, é um exemplo claro disso, ele não fala com o mesmo público que assiste o Faustão, o Datena e a Xuxa, mas faz uma leitura que atinge um outro determinado público e de forma mais elegante, com uma RETÓRICA AFETADA faz os mesmos ataques ao Nordeste e aos nordestinos Dissemina o mesmo ÓDIO que vemos nas redes sociais aos nordestinos. Então, o ódio tem origem, tem incentivo e tem classe social.

EU ENTENDO O ANTIPETISMO, EU ENTENDO A DIVERSIDADE DO POSICIONAMENTO POLÍTICO DE ACORDO COM SUA CLASSE E INTERESSE, EU ENTENDO O PROBLEMA DA ALIENAÇÃO E DESPOLITIZAÇÃO NUM PAÍS QUE VIVEU SOB UMA TERRÍVEL DITADURA CIVIL MILITAR, EU ENTENDO A FALTA DE ENGAJAMENTO POLÍTICO DO CIDADÃO COMUM E A DESCRENÇA NESSE MODELO QUE AÍ ESTÁ.
NÃO ENTENDO – e não aceito - A DISSEMINAÇÃO DO ÓDIO DISCRIMINATÓRIO, RACISTA E XENOFÓBICO. Seja da Ku Kux Klan, de fascistas, de religiosos ou da classe média conservadora.

Não estou de luto, estou em luta. Eu continuo existindo.

E você?


OBS: Eu queria pegar alguns familiares e amigos e dar um curso sobre o bolsa família para que ao menos isso fosse entendido. Acho que é aí onde residem as maiores absurdidades. Eles realmente acreditam que estamos sustentando vagabundos, que existe emprego para todos dentro do sistema e só não trabalha que não quer. Gostaria muito de levá-los para conhecer alguns lugares do interior do Brasil – tipo o distrito de Bichinho em MG – e perguntar que solução eles dariam para esses locais. Não em longo prazo e ideias mirabolantes, mas questão prática, para hoje a noite, quando as crianças perguntarem o que tem pra comer? Nós, urbanoides dos grandes centros, somos muito arrogantes, ignorantes e como disse o senhor Mainardi somos de fato “pouco educados” (por favor, ironia), falamos sobre o que nunca vimos, não conhecemos e sequer entendemos.


Distrito de BICHINHO, próximo a Tiradentes - MG, explorada pelos comercintes de arte de BH, que compram por preços irrisórios dos artistas locais e vendem por pequenas fortunas nas galerias ca capital. A população vive disso e de agricultura familiar. SE interessar conhecer, não fique no centrinho turistico, vá até a periferia e quem sabe aí...

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