A medida que a
data foi se aproximando mais referências sobre o DIA DE HALLOWEEN foi
aparecendo. Ainda mais em tempos onde todo mundo pode ser ouvido no palanque do FACEBOOK. Os que entendem
do assunto, os que não entendem, os que já leram algo em algum lugar, os que só
querem opinar nesses tempos que “todo
mundo tem que ter uma opinião”, os sensatos e principalmente os nonsense. Daí, vale a pena uma ou duas
ideias a respeito, para responder ou apenas pensar na questão: POR QUE NÃO O
HALLOWEEN NO BRASIL?
Antes do
apedrejamento moral, é bom esclarecer que não celebro Halloween, não distribuo balinhas
e docinhos por aí (nem no dia de Cosme e Damião!), não tenho uma abóbora, nem
aranhas e morcegos enfeitando minha casa. No entanto, não vejo problema na
data, na tradição e seus significados históricos. O problema reside em outra questão, não é?
A falta de
afirmação/valorização de nossa própria CULTURA que facilmente é atropelada por
modismo e tradições exteriores. Temos uma enorme riqueza cultural muito pouco
conhecida e por muitos (normalmente da classe média arrogante e inculta) considerada
coisa de país periférico, colonizado e miscigenado (há pouco ouvi a pérola que “congada é coisa de preto”). Nosso
paradoxo. Da nossa agonia como país explorado e escravizado vem nossa maior
riqueza: nossa cultura, farta e plural.
Quando eu era criança
lia muito (acho que é coisa da minha mãe) e uma coleção inesquecível com três
livros (na minha estante até hoje) foi justamente uma com um nome horrível,
própria da época da DITADURA MILITAR: “Cultura
Cívica Brasileira”, com as mais diversas lendas brasileiras. Descobri muito
mais tarde que aquelas ilustrações fabulosas que me faziam imaginar aquele
mundo era de José Lanzellotti que fez
parte da expedição Roncador Xingu,
com os irmãos Vilas Boas em 1949 e se
dedicou a retratar a vida indígena, o Brasil e sua cultura. E na bibliografia consta o nome de Câmara Cascudo e sua obra “Antologia do Folclore Brasileiro”. Em
julho deste ano, em viagem a Natal – RN, tive a oportunidade de visitar a casa
onde ele viveu a maior parte da vida.
Neste livro li
as mais diversas histórias que não me lembro em detalhes, mas que colaborou com
a minha formação e entendimento sobre cultura brasileira e respeito às tradições.
BOITATÁ, NEGRINHO DO PASTOREIO (esse eu me lembro porque sofri muito!), IEMANJÁ,
SACI PERERÊ, CAIPORA, UIRAPURU, BOTO, MULA SEM CABEÇA, CURUPIRA, entre os mais
conhecidos e mais a PRINCESA SALAMANDRA, CEUCI, ANHANGÁ, MAPINGUARI, SALAMANDRA
DO JAÚ entre muitas outras histórias.
Contra capa do meu livro "Cultura Cívica Brasileira", ilustração de J. Lanzellotti. |
Uma riqueza
cultural e regional sem fim. Isso constitui a pluralidade nacional. Devemos incentivar a leitura, o conhecimento
do nosso folclore e tradições, disseminar as histórias, fazer as crianças
lerem, os professores montarem peças de teatro, releituras das tradições,
adaptações. Isso os EUA fazem brilhantemente. E nós? Minha pergunta é: será que
quem condena o HALLOWEEN incentiva a nossa cultura de fato? Conheço muitos que
sim, oferecem para seus filhos, elaboram projetos nas suas escolas, valorizam...
Mas e o restante? Faz o quê? Posta na internet que é contra a invasão de
estrangeirismos?
Capa do livro |
Não seria muito purismo? Rechaçar só essa data ou tudo que não pertence
a nossa cultura? Ou só o que pertence a cultura anglo-saxônica? Deixemos o rock
e o futebol e outras coisas que não nos pertencem originalmente. Inclusive não
poderíamos, nessa lógica, nem usar o termo FOLCLORE
que também é inglês ("folk", em inglês, significa povo, e "lore"
cultura). Isso é XENOFOBIA: preconceito, aversão e a discriminação. Sempre
desnecessário e perigoso. O problema não está em recusar outro estrangeirismo,
o problema está em valorizarmos as nossas tradições. NÃO COMBATENDO A OUTRA. VALORIZANDO A NOSSA. É DIFERENTE.
Não tenho nada contra o Halloween. Não está
deturpando nossa cultura, não está substituindo uma comemoração já existente nossa.
O HALLOWEEN OU DIA DAS BRUXAS é uma
festa celebrada no dia 31 de outubro, véspera do dia de Todos os Santos. Tem
uma história muito interessante pois como festa pagã (da cultura céltica) era
proibida pelo catolicismo na Idade Média. Acho muito sensacional! Gosto mais ainda
do DIA DE MUERTOS no México que
acontece no dia 1 (todos os Santos) e 2 (finados). Também é alegre, envolve as
máscaras e fantasias e outros condimentos. (Sobre o México, leia Octávio Paz, O Labirinto da Solidão, prometo: muda a
nossa vida)
Dia de los Muertos no México |
O que é ruim?
Quando uma cultura coopta/domina a outra. Como nossas FESTAS JUNINAS E CARNAVAL
que cooptadas pelo MERCADO se transformam em outra coisa e se distanciam de
suas raízes. Isso sim é um problema.
De novo: o questão
é outra. O HALLOWEEN não substitui
ou fere nosso folclore, simplesmente por que o DIA DO SACI foi criado a menos de 8 anos. O DIA DO FOLCLORE, 22 de agosto, ninguém lembra. Precisamos sim RECUPERAR,
VALORIZAR, INCENTIVAR a nossa cultura. Precisamos ter orgulho de quem somos, de
nossas tradições e histórias. Das nossas riquezas regionais que mal conhecemos.
Mas não acho que outras culturas – desde que não seja como dominação – devam
ser recusadas. Vá nas festas de Hallowenn e leve nossa cultura pra lá também,
vá fantasiado de SACI, UIRAPURU, CAIPORÁ OU IEMANJÁ.
Parece que a
recusa ou o combate ao HALLOWEEN é mais uma vingança pelo imperialismo estadunidense do que pela própria data, que de fato,
mal nenhum faz. Mas COCA-COLA, isso sim: vicia, engorda e entope as artérias!
Bruxas são inofensivas.