sábado, 27 de abril de 2013

Capital voraz: THATCHER, FELICIANO, VICTOR DEPPMAN e a desumanização


Publicado originalmente no FACEBOOK Dia 11 de abril de 2013.


Capital voraz: THATCHER, FELICIANO, VICTOR DEPPMAN e a desumanização
     É mais de uma da madrugada e não consigo dormir! Esta semana algumas notícias fizeram parte insistentemente de nosso dia a dia. E no FACEBOOK, uma rede social onde nos relacionamos e trocamos ideias, piadas, convívio e opiniões, não foi diferente. Algumas pessoas, com certa razão, se cansam da repetição temática: O PREÇO DO TOMATE, A PEC DOS EMPREGADOS DOMÉSTICOS, O PASTOR FELICIANO, A MORTE DA M. THATCHER...
    Mas penso que o FACEBOOK cumpre vários papéis. Para mim, aproxima por que estou muito longe de quem eu amo, me aproxima de ex-alunos e amigos distantes, faz parecer que ainda tenho uma rotina com antigos companheiros de trabalho, me faz rir (muito) e chorar (às vezes), me dá condições de expressar minhas angústias sociais (não as pessoais) e minhas bandeiras de luta, denunciar e divulgar tudo aquilo que acho pertinente. Como todo professor, sou formadora de opinião, e certo número de pessoas me ouve pois buscam compreender o entorno. 
É por isso que depois da morte do VICTOR, ALUNO DA CÁSPER e da reação das pessoas depois do fato, é que fiquei pensando na ligação desses assuntos todos desta semana: tudo fruto de um mesmo debate. QUE SOCIEDADE É ESSA? O QUE ESTAMOS FAZENDO? 
    Infelizmente, eu não posso nesse momento de dor julgá-los, mas depois de uma morte trágica, sem explicação aparente, as pessoas não querem escutar as análises sobre as condições geradas pela sociedade para que tais fatos ocorram. Desejam justiça, seja lá o que cada um interprete como justo. Já apareceu em primeiro lugar a ideia fácil de MAIORIDADE PENAL, como se isso fosse resolver o problema da violência ou ao menos como forma de vingar. Essa é uma ideia banalizada, sem propósito nenhum e como toda a proposta reacionária não prevê mudança significativa nas causas da violência. A FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS, A PRESENÇA DO ESTADO, EDUCAÇÃO, CULTURA, MORADIA, DIGNIDADE, ENTRE OUTRAS QUESTÕES QUE NÃO VEM À TONA NA HORA DA CATARSE EMOCIONAL APÓS O TRAUMA. 
    Vivemos sim uma situação terrível de DESUMANIZAÇÃO. Sou historiadora e não tem como não lembrar que situações desumanas são recorrentes em nossa história. Nas guerras da antiguidade, nas cruzadas, na inquisição, contra as mulheres em todas as guerras, contra os camponeses na Alemanha de Lutero, contra os trabalhadores na revolução industrial e outros tantos exemplos que não me ocorre agora citar. Mas em nosso tempo os tipos de desumanização ganham visibilidade e “chegam” mais próximo de nós. São câmeras, celulares, tvs, notícias instantâneas (por vezes sensacionalistas). Erroneamente achamos que é só no Brasil, mas são inúmeros exemplos que mostram que não. A menina que se suicidou ontem no Canadá após ser estuprada por 4 jovens e ter a foto da agressão divulgada na rede, o homem na Áustria que prendeu a filha por 24 anos no porão e teve 7 filhos – só para citar algumas absurdidades que me veio na lembrança. 
    Mas o fato é que a sociedade produz um mundo competitivo, baseado no consumo, na desigualdade social extrema, E NÃO QUER PAGAR A CONTA. Defender a sociedade do capital é possível apenas quando vc só fala das coisas boas e normalmente que não te afetam: a FOME, A MISÉRIA, A EXPLORAÇÃO. Tudo isso são fatores geradores dessa violência que aí está. E HÁ MUITO TEMPO. Ficamos indignados quando ela chega perto de nós. Mas ela já está faz tempo nas nossas PERIFERIAS DO MUNDO matando e barbarizando a civilização. As ações violentas só fruto dessa sociedade e não adianta falar apenas no individuo. Quantos meninos como este que matou o Victor existem? Quantos não são impulsionados a ter, possuir, consumir, valores amplamente disseminados nos nossos meios de comunicação, e passam a desejar aquilo que NUNCA irão possuir. Nem por trabalho e nem pela criminalidade. Começam a viver de forma animalesca e se acostumam com a brutalidade, se acostumam com a violência, com a morte, com a banalidade do sofrimento. Como um soldado na zona de guerra: a morte já não faz diferença. SERES EMBRUTECIDOS E DESUMANIZADOS. Infelizmente. E O QUE COBRAMOS? Mecanismos de repressão, policiamento, maioridade penal, prisão (nosso sistema penitenciário falido...), políticas agressivas tão deficitária, quanto tudo que foi feito até agora. Por que não é aí que reside o problema. Se fosse até que seria fácil a solução.
      Gente como a THATCHER que defendeu os interesses da classe dominante e atacou sistematicamente os trabalhadores; gente como FELICIANO que com sua ira e intolerância ataca a pluralidade social; o atraso em defender os direitos das EMPREGADAS domésticas tratadas até hoje por mulheres da classe média e por madames como mucamas de luxo sem direito algum; a morte do VICTOR, SÃO TODOS ASSUNTOS COM UMA MESMA NATUREZA: DE UM MUNDO ONDE O CAPITAL É VORAZ. E NÃO ME DEIXA DORMIR. 
Evidente que DEVEMOS COBRAR, GRITAR, PROTESTAR para que o Estado tome medidas emergenciais por que a situação é lamentável - para todos nós - moradores ou não das periferias. Mas não medidas que só favoreçam a nossa proteção e danem-se os “outros”. Não medidas que diminuam o impacto da violência em nós, mas aumente no “outro”. O QUE PRECISAMOS É MUDAR O PARADIGMA DA SOCIEDADE, É PRECISO LUTAR, ORGANIZAR, CONSTRUIR BASES PARA NOVAS FORMAS DE RELAÇÃO HUMANA, POIS AO QUE PARECE, ESTA, NÃO ESTÁ DANDO CERTO. E nunca deu. (E não venha falar em utopia, estou falando de transformação histórica)

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