Publicado originalmente
no FACEBOOK Dia 11 de abril de 2013.
Capital voraz: THATCHER,
FELICIANO, VICTOR DEPPMAN e a desumanização
É mais de uma da madrugada e não consigo dormir! Esta semana
algumas notícias fizeram parte insistentemente de nosso dia a dia. E no
FACEBOOK, uma rede social onde nos relacionamos e trocamos ideias, piadas,
convívio e opiniões, não foi diferente. Algumas pessoas, com certa razão, se
cansam da repetição temática: O PREÇO DO TOMATE, A PEC DOS EMPREGADOS DOMÉSTICOS, O PASTOR
FELICIANO, A MORTE DA M. THATCHER...
Mas penso que o FACEBOOK cumpre vários papéis. Para
mim, aproxima por que estou muito longe de quem eu amo, me aproxima de
ex-alunos e amigos distantes, faz parecer que ainda tenho uma rotina com
antigos companheiros de trabalho, me faz rir (muito) e chorar (às vezes), me dá
condições de expressar minhas angústias sociais (não as pessoais) e minhas
bandeiras de luta, denunciar e divulgar tudo aquilo que acho pertinente. Como
todo professor, sou formadora de opinião, e certo número de pessoas me ouve
pois buscam compreender o entorno.
É por isso que depois da morte do VICTOR, ALUNO DA
CÁSPER e da reação das pessoas depois do fato, é que fiquei pensando na ligação
desses assuntos todos desta semana: tudo fruto de um mesmo debate. QUE
SOCIEDADE É ESSA? O QUE ESTAMOS FAZENDO?
Infelizmente, eu não posso nesse momento de dor
julgá-los, mas depois de uma morte trágica, sem explicação aparente, as pessoas
não querem escutar as análises sobre as condições geradas pela sociedade para
que tais fatos ocorram. Desejam justiça, seja lá o que cada um interprete como
justo. Já apareceu em primeiro lugar a ideia fácil de MAIORIDADE PENAL, como se
isso fosse resolver o problema da violência ou ao menos como forma de vingar.
Essa é uma ideia banalizada, sem propósito nenhum e como toda a proposta
reacionária não prevê mudança significativa nas causas da violência. A FALTA DE
POLÍTICAS PÚBLICAS, A PRESENÇA DO ESTADO, EDUCAÇÃO, CULTURA, MORADIA,
DIGNIDADE, ENTRE OUTRAS QUESTÕES QUE NÃO VEM À TONA NA HORA DA CATARSE
EMOCIONAL APÓS O TRAUMA.
Vivemos sim uma situação terrível de DESUMANIZAÇÃO.
Sou historiadora e não tem como não lembrar que situações desumanas são
recorrentes em nossa história. Nas guerras da antiguidade, nas cruzadas, na
inquisição, contra as mulheres em todas as guerras, contra os camponeses na
Alemanha de Lutero, contra os trabalhadores na revolução industrial e outros
tantos exemplos que não me ocorre agora citar. Mas em nosso tempo os tipos de
desumanização ganham visibilidade e “chegam” mais próximo de nós. São câmeras,
celulares, tvs, notícias instantâneas (por vezes sensacionalistas).
Erroneamente achamos que é só no Brasil, mas são inúmeros exemplos que mostram
que não. A menina que se suicidou ontem no Canadá após ser estuprada por 4
jovens e ter a foto da agressão divulgada na rede, o homem na Áustria que
prendeu a filha por 24 anos no porão e teve 7 filhos – só para citar algumas
absurdidades que me veio na lembrança.
Mas o fato é que a sociedade produz um mundo
competitivo, baseado no consumo, na desigualdade social extrema, E NÃO QUER
PAGAR A CONTA. Defender a sociedade do capital é possível apenas quando vc só
fala das coisas boas e normalmente que não te afetam: a FOME, A MISÉRIA, A
EXPLORAÇÃO. Tudo isso são fatores geradores dessa violência que aí está. E HÁ
MUITO TEMPO. Ficamos indignados quando ela chega perto de nós. Mas ela já está
faz tempo nas nossas PERIFERIAS DO MUNDO matando e barbarizando a civilização.
As ações violentas só fruto dessa sociedade e não adianta falar apenas no
individuo. Quantos meninos como este que matou o Victor existem? Quantos não
são impulsionados a ter, possuir, consumir, valores amplamente disseminados nos
nossos meios de comunicação, e passam a desejar aquilo que NUNCA irão possuir. Nem por trabalho e nem pela criminalidade. Começam a viver de forma animalesca
e se acostumam com a brutalidade, se acostumam com a violência, com a morte, com
a banalidade do sofrimento. Como um soldado na zona de guerra: a morte já não
faz diferença. SERES EMBRUTECIDOS E DESUMANIZADOS. Infelizmente. E O QUE
COBRAMOS? Mecanismos de repressão, policiamento, maioridade penal, prisão
(nosso sistema penitenciário falido...), políticas agressivas tão deficitária,
quanto tudo que foi feito até agora. Por que não é aí que reside o problema. Se
fosse até que seria fácil a solução.
Gente como a THATCHER que defendeu os interesses da
classe dominante e atacou sistematicamente os trabalhadores; gente como
FELICIANO que com sua ira e intolerância ataca a pluralidade social; o atraso
em defender os direitos das EMPREGADAS domésticas tratadas até hoje por
mulheres da classe média e por madames como mucamas de luxo sem direito algum;
a morte do VICTOR, SÃO TODOS ASSUNTOS COM UMA MESMA NATUREZA: DE UM MUNDO ONDE
O CAPITAL É VORAZ. E NÃO ME DEIXA DORMIR.
Evidente que DEVEMOS COBRAR, GRITAR, PROTESTAR para
que o Estado tome medidas emergenciais por que a situação é lamentável - para
todos nós - moradores ou não das periferias. Mas não medidas que só favoreçam a
nossa proteção e danem-se os “outros”. Não medidas que diminuam o impacto da
violência em nós, mas aumente no “outro”. O QUE PRECISAMOS É MUDAR O PARADIGMA
DA SOCIEDADE, É PRECISO LUTAR, ORGANIZAR, CONSTRUIR BASES PARA NOVAS FORMAS DE
RELAÇÃO HUMANA, POIS AO QUE PARECE, ESTA, NÃO ESTÁ DANDO CERTO. E nunca deu. (E
não venha falar em utopia, estou falando de transformação histórica)
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