Este BLOG nasceu da necessidade de interlocução e troca de ideias sobre os acontecimentos históricos. Partindo da premissa de Eric Hobsbawm, da qual compartilho, "Os historiadores são o banco de memória da experiência". Experiência histórica. Como historiadora essa é a proposta: expor e trocar visões a partir de reflexão profunda e atenção redobrada.
Alunos, amigos e convidados são bem-vindos.
A entrevista que o cantor Amado
Batista deu a apresentadora Marília Gabriela tem dado o que falar (trecho do vídeo disponível abaixo). Depois de ouvi-lo, como poderíamos identificá-lo?
Alienado, ignorante político, manipulado, aproveitador? Na verdade, não importa
a classificação. O que realmente importa é como esta situação inusitada, de um
torturado/vítima se identificar com o seu algoz/torturador, nos dá muitos elementos
para reflexão.
Entendeu
ele, num dado momento da vida, que ao vender livros - aqueles objetos que
distribuem conhecimento e que por excelência tem a função de disseminar ideias
e culturas proibidas (Jorge Amado, Che Guevara...) - para professores e intelectuais, estava fazendo algo ruim. “Estava
apoiando pessoas erradas que queriam tomar o poder a força”.
Dois destaques
sobre sua fala.
Primeiro, ele considerar que é errado
tomar o poder a força, mas acreditar justo que os militares tenham feito
exatamente isso. Diz ele, “o governo
estava se defendendo de gente que queria tomar o país a força”. Estarrecida com a afirmação Marília Gabriela
pergunta: “Amado, você passou para o lado
de seus torturadores?” Não, é claro que não. Para isso ele precisaria
minimamente entender do que se trata tudo aquilo, as correlações de força em
jogo. Não é o caso. No máximo ele expressou a máxima do senso comum: “podíamos ter virado uma Cuba!” Aqui
aparece a velha desculpa de que fizeram isso para evitar o mal maior, á saber,
a revolução comunista (a velha paranoia). Ele condena “aquelas pessoas” [a esquerda]. Mas senhor Amado Batista, isso o
que está defendendo quando diz “se nós
queremos democracia, não é dessa forma (sic)... tem que ganhar
democraticamente” é o oposto que seus algozes defendem. DITADURAS E OS QUE AS SERVEM, SEJAM DE DIREITA OU
ESQUERDA, NÃO COSTUMAM SER FAVORÁVEIS A DEMOCRACIA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
LIVRE PENSAMENTO. EXATAMENTE POR ISSO TOMARAM A FORÇA (E COM VIOLÊNCIA) O PODER
DO ESTADO. A contradição é latente.
O segundo destaque, e a meu ver, a pior
parte da história, é ele acreditar que os militares estavam certos e dizer que
foi merecedor da tortura, ou seja, como culpado a tortura é justa. “Me bateram muito. Me deram choques elétricos”,
recorda que ficou dois meses sob muita tortura física, psicológica e
ameaças de morte. Ficou muito atordoado e que chegou a pensar em largar tudo e
virar “andarilho”, e só se recuperou
porque tinha estrutura familiar. Mesmo assim, acha justo, segundo sua lógica – “foi uma justa correção! A tortura é
justificável”. Novamente Senhor Amado Batista: poder desse tipo: VIOLENTO,
USURPADOR, QUE IMPEDE A CULTURA, CONHECIMENTO, LIVRE PENSAMENTO E EXPRESSÃO, E
QUE BENEFICIA POUCOS, não se justifica.
Não importa o grau de
miopia alienante do senhor Amado Batista ou quais são as suas justificativas
recheadas de senso comum. Homens foram torturados, espancados, assassinados.
Mulheres foram torturadas, estupradas e assassinadas. E nada, absolutamente
nada justifica tal “corretivo”. E mesmo falando tantos impropérios,
por favor, lembrem-se, o cantor, natural de Catalão, é a vítima e não o
criminoso! Fez uma coisa maravilhosa e letal, forneceu livros!
Esta semana o
ato da atriz Angelina Jolie – uma dupla mastectomia preventiva – e se tornou alvo das opiniões da pessoas, “ossos do
ofício”. Se fosse comigo, poucos ficariam sabendo e facilmente faria o discurso
de que ninguém tem nada haver com minhas ações e decisões. Muito utilizado hoje
esses refrões neoliberais do individualismo: “Deus deu a vida para cada um
cuidar da sua” ou “cada um no seu quadrado”... No entanto, como se trata de uma
figura pública, e pior, uma atriz hollywoodiana, todo mundo quer dar o seu
pitaco.
Um jornalista raivoso a chamou de cretina,
irresponsável e o seu texto, publicado no New York Times (que ele chamou de “pasquim”),
de macabro. Ah! E a nós que apoiamos o ato da atriz de idiotas. Tive acesso a
esse texto machista e conservador desse tal de André Forastieri pelo Facebook.
Ao que parece, jornalista muito lido, apesar de ser um ilustre desconhecido
para mim. Ainda bem! De Reinaldos Azevedos e Diogos Mainardis minha vida já
está repleta. Obrigada. Porém, como vi muitas pessoas seguindo o seu raciocínio
fiquei preocupada. Perguntei-me: será
que as pessoas estão concordando simplesmente por ser muito fácil falar mal
dessas super atrizes que fazem tudo pela beleza? É fácil criticar as que
exageram para ficar em evidência na mídia e abusam das plásticas para continuar
jovens e exuberantes.
Eu mesma já
destruí em sala quase todas as divas “irreais” hollywoodianas. Mas neste caso discordo
radicalmente de tal jornalista e da opinião pública que o seguiu. Primeiro que
o texto é conservador e retrógrado com pitadas de machismo rasteiro. Considero
o que ela fez exatamente inverso do que ele aponta. Ela abriu mão da estética e
teve que fazer uma cirurgia para reconstrução dos seios. Isso tem um impacto
violento na feminilidade da mulher, é notório o relato de mulheres que já
doentes – que além de sofrerem com o medo e a incerteza do câncer - ainda tem
que tirar os seios. Muitas vezes não querem mostrar mais o corpo, negam-se a
fazer sexo com os maridos, se retiram da vida social mesmo depois de
reconstruir os seios. Portanto, ela abriu mão da vaidade. Difícil de ser ver nesse meio.
O problema é outro, a questão de fato é que
todas as mulheres deveriam ter acesso para decidir fazer ou não. A questão
reside, infelizmente, no custo de ação preventiva, um médico oncologista disse
que o valor de um exame para saber o percentual de chance de desenvolver
câncer e se há alguma mutação genética
(caso da atriz) no Brasil é de 8 mil reais. Ora, quem tem esse valor apenas
para um exame? Além disso, o procedimento cirúrgico é caríssimo, não coberto pelo plano de
saúde e muito menos pelo SUS. Assim, não temos direito de escolha, porque como
muitas coisas na nossa sociedade, essa ação preventiva é para poucas.
Ela tem seis filhos
para criar, foi uma decisão acertada. O argumento principal dele é que o
“tratamento não era necessário porque ela não estava doente” e que as mulheres
(todas) tem em média 12% de chance de ter câncer de mama na vida. Sim, por isso
tratamentos preventivos são fundamentais. E se apenas os exames comuns não dão conta, que usemos outras ações.Por isso, alguém que apresente o
histórico familiar dela e 87% de chance desenvolver o câncer tem que se
prevenir. Por isso que todas nós devíamos ter acesso e o direito de decidir. Evidentemente
é uma ação extrema e só recomendada para casos específicos, como o dela. Mas
diferente do Sr. André, o tal jornalista, aqui o texto é para reflexão e nem
todo mundo precisa concordar, apenas ter argumentos menos esdrúxulos.
O que mais me
incomoda é o mesmo e velho discurso usado para vários temas: ela vai induzir as
mulheres, vai incentivar as mulheres, ou como nas palavras do tal jornalista
“as mulheres serão tentadas ou pressionadas a seguir seu exemplo”. E lá vamos nós..., se liberar o aborto todas
as mulheres vão abortar, se aceitarmos o homossexualismo vamos influenciar os
meninos a virar gay e assim por diante.... Não! As coisas não acontecem assim,
mas há séculos a sociedade patriarcal se acostumou a escutar o discurso dos
homens sobre as questões dos gays, das mulheres... a ponto de que até as mulheres reproduzem as
mesmas visões. De que ela frágil, de que tem que apanhar calada por que ele é o
marido e sempre está certo ou só estava nervoso! De que lugar de mulher é
dentro de casa, de que ela lava à louça por que isso não é coisa de homem! De
que ele decide quantos filhos irá ter! E agora, até se ela deve ou não se
prevenir de um câncer iminente!
Estamos
falando em liberdade de escolha. Em direito de escolha. Se minha mãe tivesse
morrido aos 56 anos dessa doença, se eu apresentasse essa mutação e quase 90%
de chance de desenvolver um câncer, mesmo tendo "saúde perfeita
agora" como diz o tal jornalista, eu faria sem medo, ou com muito medo.
Mas dane-se a estética. (E não seria nenhum homem, sem seios, sem útero que me
diria o que é certo fazer, vai fazer um Papanicolau Sr. André).
Parabéns Sra. Jolie.
Ah! E minhas recomendações ao Sr. Pitt...
Foram 22 dias de greve do magistério paulista. Foram 4 grandes manifestações na Avenida Paulista e centenas de passeatas regionais de apoio a nossa greve, feita por estudantes, pais e mães. Foi uma greve em que os professores categoria O levantaram a cabeça, enfrentaram o assédio moral e ameaças de demissão e foram à luta. Apesar da intransigência do governo, do corpo-mole da direção do sindicato e da traição na assembleia de 10 de maio, o governo fez algumas inflexões em relação aos professores categoria O e F.
O problema é que foi tudo de boca e sem data para efetivação, pois as mudanças em relação ao professor categoria O dependem de Projeto de Lei a ser aprovado na Assembleia Legislativa, e estes projetos sequer existem.
Professores aprovam continuar em greve, mas Bebel decretou seu fim!
No dia 10 de maio, mais de 6 mil professores realizaram assembleia estadual da categoria, que estava em greve desde 19 de abril. A direção majoritária da APEOESP (CUT) defendeu o fim da greve, mesmo sem nenhuma garantia por escrito feito pela Secretaria Estadual de Educação. Apesar de a Oposição ter tido apenas duas intervenções pela continuidade da greve, na hora da votação mais de 70% dos presentes votaram na proposta de continuar a greve, exigir que a SEE entregue por escrito suas propostas e nova assembleia na terça feira, na Praça da República, mesmo dia da assembleia dos trabalhadores municipais que estão em greve.
De maneira totalmente arbitrária, a presidenta da APEOESP, Maria Izabel Noronha (Bebel) decretou o fim da greve, mesmo com 70% dos professores tendo votado pela continuidade do movimento. Esse desrespeito gerou muita indignação e os professores exigiam a imediata reinstalação da assembleia para continuar com nossa greve. Após mais de uma hora de impasse, a direção da APEOESP chamou a Polícia Militar, para escoltar a diretoria traidora do sindicato. Para fazer essa escolta, a PM agrediu dezenas de professores, deteve 2 manifestantes e feriu vários. A responsabilidade por esse confronto é da direção majoritária da APEOESP (Bebel e CUT) que desacataram a decisão da assembleia e ainda chamaram a polícia para encerrar a greve.
Fortalecer a Oposição para derrotar a Direção Majoritária da APEOESP (Bebel e CUT)
Diante dessa traição os professores que fizeram essa greve e enfrentaram a direção majoritária da APEOESP neste dia 10 de maio, tem vontade de se desfiliar e de nunca mais querer participar do sindicato. Pensamos o contrário, pois precisamos regatar o sindicato para a mão da categoria. Para isso é necessário que todos os lutadores venham fortalecer a oposição e colocar para fora da APEOESP os governistas da CUT. Isso é fundamental, pois precisamos transformar a APEOESP em um instrumento de luta dos professores. Venha construir conosco a Oposição à APEOESP. Entre em contato, para que possamos derrotar os traidores que controlam o sindicato. Nossa luta vai seguir, apesar da direção da APEOESP.
Boletim da Corrente Sindical - CONSPIRAÇÃO SOCIALISTA Resultados da greve de abril/maio de 2013
Greve acaba, com atitude irresponsável da Presidente da Apeoesp
Na última sexta-feira, 10/05/2013, em Assembleia na Avenida Paulista, nossa greve foi encerrada. Apesar da maioria dos presentes votarem pela continuidade da greve com nova assembleia na terça-feira, exigindo que o governo colocasse no papel suas propostas, já que Alckmin não merece nenhuma confiança, a presidente do Sindicato (Bebel) decretou o fim da greve.
Pequenas conquistas só se deram por causa da greve
Apesar da queda da adesão, na última semana de greve o governo propôs, verbalmente, o fim das provas para os professores categoria F, o que significa que a atribuição para os F se dará novamente por pontuação; o fim das provas para o Categoria O que já estão aprovados, o que significa que, a prova será feita para a primeira contratação, e uma vez aprovado, ele só precisa fazê-la se optar por tentar aumentar sua nota; e a inclusão dos Categoria O no IAMSPE, o que significa o atendimento no Hospital do Servidor Público Estadual para o conjunto da nossa categoria.
O governo também anunciou que fará o concurso público para a efetivação em 2014, com vagas para 20 mil professores, a ser realizado no segundo semestre, e a não privatização do Hospital do Servidor. Comprometeu-se, ainda, com a discussão do pagamento dos dias parados e a retirada das faltas do prontuário, mediante a reposição.
Com relação aos salários, manteve a proposta de 2,1% (reposição da inflação) mais os 6%, já previstos em lei, decorrentes da greve de 2010, Ou seja, manteve os R$ 0,19 (dezenove centavos) por aula e se disse disposto a debater a possibilidade de um novo reajuste no segundo semestre e a debater a implantação paulatina da jornada do Piso.
Parabéns àqueles que permaneceram na Luta.
Nós, da Conspiração Socialista, não temos nenhuma confiança no governo, mas entendemos que com a baixa adesão a nossa greve teríamos dificuldades para obter mais. O que se conseguiu, apesar de insuficiente, é fruto da greve. Se tivéssemos feito uma greve mais forte conseguiríamos mais, o que nos mostra que fazer greve tem eficácia e pode trazer vitórias. Porém, a desconfiança de parcela grande da categoria com relação à direção majoritária do sindicato, além de outros fatores que temos que analisar, impossibilitaram uma greve com maior adesão.
Mesmo os reajustes concedidos à equipe gestora, supervisores e dirigentes, visando que eles atuassem contra a greve, só ocorreu por causa da nossa luta.
Continuar organizando a categoria para recuperar
a credibilidade da Apeoesp
Mesmo assim, em respeito à democracia interna do sindicato, lamentamos a atitude da presidente de não acatar a decisão da maioria da assembleia de continuar em greve até que, no mínimo, o governo colocasse suas propostas no papel e as instâncias da entidade as analisassem para que nossa decisão fosse tomada numa próxima assembleia.
Uma coisa é o reconhecimento de que nosso movimento estava perdendo adesão, mas isso não dá o direito da presidente do sindicato não respeitar a decisão da maioria.
A Conspiração Socialista tem a certeza de que o pouco que avançamos foi fruto da greve e da disposição daqueles que a fizeram, em especial, dos professores Categoria O, que aderiram à greve, mesmo com as pressões e ameaças que sofreram.
Mantemos nossa convicção de que só com lutas teremos conquistas e continuamos lutando pela valorização dos professores(as), pelo fim da divisão em categorias, pois somos todos professores.
Reconheço que não sou uma
filha muito comum, com aquelas costumeiras falas sobre as mães. Não acho que mãe é tudo igual, só muda o endereço.
Não acredito em instinto maternal só por que ela tem útero. Não acho que é forte e aguenta qualquer coisa. E
todos esses ditos populares que se
repetem nessa época. Esses são poderes quase sobrenaturais. Mães são
diferentes, por que são mulheres com individualidade. Conheço mulheres com
útero que são péssimas mães, e outras com útero que seriam excelentes. E seres
humanos têm limite, nem tudo é possível.
Para completar, não acredito que seja preciso
de uma data comercial para comemorar o seu dia. No entanto, é fato que a mulher
enfrenta um grande acumulo de funções e sua multiplicidade de papéis faz com
que ela ganhe mesmo ares de heroína. Mas não são. Acreditar em super poderes é
retirar aquilo que é mais importante nessa história: antes de serem mães, são MULHERES.
Minha mãe, como
outras mães que eu conheço, NÃO NASCEU MÃE. Aprendeu na raça, na vida,
acertando e errando. Foram cobradas pela sociedade. Apesar dos nossos inúmeros avanços,
as conquistas foram se somando. As transformações foram muitas, consolidou-se
uma nova identidade feminina, com direito a dirigir, votar, fumar, vestir
calças, trabalhar, se eleger, essas coisas que os homens nunca tiveram que
lutar para ter. No entanto, juntou-se a isso as outras funções consideradas “naturais”
das mulheres: a casa, a louça, os filhos. Ah! Sim, os maridos mais
progressistas dizem que ajudam as suas mulheres. AJUDAM, por que a obrigação é
delas, eles podem é colaborar um pouquinho...
Mas elas, tenho que
reconhecer, dão conta do recado. Amor e dor caminham juntos. Nós, os filhos, (e
todos somos) entramos em pedir licença, sem cerimonia nem cuidado. Chegamos
revolucionando tudo. E ela? Tem de se virar.
Minha mãe foi se
virando em cada fase completamente diferente de nossas vidas. E o meu
sentimento por ela também foi mudando a cada época e situações inesperadas. Mudamos
o tempo todo. E nossas mães? O que resta fazer? Mudam também.
Tem que aguentar
aquela criança irrequieta ou aquela sempre doente. Aquele ser que dá trabalho
pra comer ou pra estudar, ou pior, os dois. Aquele adolescente chato que acha
que o mundo é seu ou aquele que não se acertou no mundo. Tive lá meus momentos “eu
odeio minha mãe”, principalmente quando ela me proibia de alguma coisa ou fazia
qualquer outra coisa na frente dos meus amigos. Mas preciso confessar que minha
fase de “conflitos na adolescência” não durou muito. Acho que resolvemos isso
fazendo o que gostávamos: eu trabalhava e acampava e ela fazia chocolate! Mas
prefiro deixar essas questão - conflito mãe e filha - para meu inseparável
amigo de terapia explicar, Freud, é claro.
Eu vou falar uma
coisa: minha mãe nesse quesito, adaptação às circunstâncias dadas, é a número
1. Passou por todas as fases com três pessoas completamente diferentes. Sem
nenhum manual e explicações de fábrica. E hoje ela carrega experiência, lembranças e uma vida repleta de
gente que a adora.
Eu? Bom... eu só me
lembro do companheirismo. Assistindo nossos seriados juntas (não perdemos um
capítulo de Anos Incríveis na TV Cultura) ou qualquer uma daquelas coisas
gostosas do cotidiano que a gente só percebe o quanto é bom depois que passa!
Só me lembro da
cumplicidade. Da confiança, da compreensão e da troca sutil de admiração. Aquele
sentimento reconfortante de que posso contar para qualquer coisa e que só de
saber que ela está por ali, já tá bom. E
depois de um tempo longe, a saudade que sinto, como diz o poeta Chico Buarque, “dói latejada, é assim como uma fisgada”
Ela me ensinou, talvez
sem saber, a ter RAÍZES E ASAS. Raízes
para lembrar de onde eu vim e quem eu sou. Asas para ir por aí descobrir o
mundo e ir além. E eu fui. Obrigada, mãe.
Se minha mãe aprendeu
a ser mãe??? AH! Hoje ela é professora.
Professores em tempo de
desencanto: ou qual a semelhança entre a Greve dos Professores em 2000 e 2013?
ou,
Da saga: Os efeitos de quase 20
anos da política educacional do PSDB em São Paulo e como apanhei do meu aluno numa passeata na Paulista
Ou,
De como o transito é um problema bem
maior do que o da educação nesse país.
Ou
ainda,
Mario
Covas fazendo escola, Datena e o Jornal Nacional
Fico triste em ver os relatos dos meus
alunos, agora “já” professores, completamente desiludidos após participar de
sua primeira greve. Enfrentaram de tudo:
·Passaram
pelo problema burocrático de fazer a greve e ser ameaçado pelo diretor da
unidade;
·Passaram
pelo problema ideológico de argumentar a favor da mobilização;
·Tiverem
que convencer seus pares da importância da luta;
·Ouviram
os pelegos e suas justificativas sarcásticas de por que não adianta fazer
greve;
·Foram
esculachados pela mídia que não fala das reinvindicações da categoria e apenas
notícia quando é um problema do transito e de como a manifestação atrapalha a
vida do cidadão;
·Aguentaram
as piadinhas de que escolheu a profissão, por que não muda agora e se quer ser
professor que aguente e trabalhe por amor;
·Participaram
de assembleias, andou pelas ruas embaixo de sol, participou de reuniões, etc.
E tudo isso para:
·A
imprensa noticiar (e zombar) que eram 500 professores quando na verdade eram quase
5 mil;
·O
Governo do Estado absolutamente ignorar os problemas e as reivindicações;
·Ver as
assembleias começarem a esvaziar;
·Presenciar
o sindicato – APEOESP - que devia representar a categoria, tomado há anos por
uma corja sem escrúpulos, manipular e passar por cima da base como um trator-
traidor;
·Apanhar
da polícia – autoridade fardada para defender os interesses do Estado - como se
fossem eles os assassinos e corruptos desse país;
Infelizmente nenhuma novidade. Já passei por tudo
isso. O sentimento é terrível. A situação
do professor é catastrófica, a escola está em situação caótica, os alunos em
sua maioria saindo das escolas sem o mínimo do conhecimento básico, as
condições pioram ano a ano. A vontade de gritar e pedir socorro pra
sociedade é imensa. E na hora que se consegue minimamente reunir a categoria para
a luta: traição sindical!
O que me assusta é que isso gera o pessimismo imobilista ou o discurso de
esvaziamento do sindicato (desfiliação em massa). Professores, é isso que eles desejam, que deixemos o o espaço para
eles ocuparem. Entendam que este, é sim, um jogo de poder e que essas situações
devem nos motivar pra luta e não para a desistência! Pessimismo da razão, Otimismo da Vontade(Gramsci) É preciso ver as coisas como são, mas é preciso de força
e perseverança para mudar o estado das coisas. Elas não se transformam pela força do pensamento ou sentados na sala de
aula. Transformam-se com ações e luta. Tomemos o sindicato e não o contrário.
Sintomático foi a INESCRUPULOSA E
EXECRÁVEL, PRESIDENTE DO SINDICATO, ter que pedir apoio policial para sair ao
som de “Que papelão... A Bebel vai sair
de camburão”. Os professores entenderam o que estava acontecendo e
reagiram, isso é fundamental pra mostrar que o problema não está só na base.
O que me preocupa mais SÃO AS SEMELHANÇAS, 13 anos depois, de como o Governo do
PSDB (desde 1995 no poder em SP) continua a tratar
com violência e truculência repressora, os professores e a educação (um
problema de todos nós) como caso de polícia!
Permitam um pequeno “causo” bem
ilustrativo:
Em 1999,
após uma assembleia na Av. Paulista, fomos em passeata a caminho da Secretaria
da Educação. Éramos muitos. Mas a política decidiu que deveríamos nos manter apenas
numa faixa da avenida (porque o transito
é um problema bem maior do que o da educação desse país, é claro!). Isso
causava empurra-empurra e o tempo todo éramos empurrados para a faixa pela polícia
que caminhava ao lado. Várias vezes fui cutucada sempre de forma agressiva para
voltar para a faixa, e numa delas reclamei gritando ao policial que seu “instrumento”
havia me machucado. Para meu espanto (e para o dele também) o garoto fardado
que ali estava, HAVIA SIDO MEU ALUNO POR DOIS ANOS NUMA ESCOLA NO EXTREMO DA
ZONA SUL, COLÔNIA PAULISTA (depois de Parelheiros). Onde todo tipo de excluído
social convivia bem longe do olhar da sociedade. Desviou
o olhar, sem graça, e o máximo que conseguiu foi acenar com a cabeça e acelerar
o passo com uma imensa vergonha.
Vergonha por que ele sabia da
minha seriedade e que minha luta era a dele
também. Sabia que eu estava ali por que era certo e única forma de luta contra o Estado que nunca fez nada para
melhor as coisas para ele e sua escola. Sabia que ele estudou numa escola sem estrutura, numa sala super lotada de quase 55
alunos e que fazíamos “das tripas, o coração” para que eles conseguissem o
mínimo necessário. Sabia que agora estávamos em lados opostos e eu agora é sua
inimiga: ele estava ali para me conter. Por tudo isso, ele desapareceu na
multidão. E eu nunca mais esqueci a lição: a polícia é um Instrumento de Repressão
do Estado. Mesmo que as pessoas queiram ou acreditem em outra coisa...
Em
2000 apanhamos pra valer.
Foi bem pior do que vocês viram ontem. Além disso, houve a destruição pelo
próprio governador Mario Covas do
acampamento que há mais de um mês estava montado na frente da Secretaria da
educação. O que fez o digníssimo
governador (além de mandar a tropa de choque para a Paulista)? Resolveu que
iria entrar pela frente do acampamento, sendo que a entrada lateral estava
totalmente liberada. E para quê?
Para ficar durante 6 minutos lá dentro e sair de novo. Provocativo? Esperto?
Para criar o fato? Para irritar? Para mostrar força e poder? Não importa. O que
de fato importa é que são cenas dignas da truculenta ditadura cível-militar. Cenas lastimáveis e que tiveram efeito
imediato:dispersou a greve, desanimou os professores em luta e
desmobilizou a categoria por anos. Professores
foram exonerados e perseguidos. E nos últimos anos nós só contabilizamos perdas
e uma educação em estado de coma.
Coloco os links de algumas cenas da greve de
2000 gravadas da rua pelo de televisores ligados no programa do Datena (na época na Rede Record) e um
trecho do Jornal Nacional mostrando
o enfrentamento do Covas no acampamento dos professores. Existe o DVD completo,
vendido por anos pela Comissão de Professores Perseguidos.
Ontem
assisti tudo ao vivo, dessa vez aqui de muito longe, pelo programa do Datena - agora na Band - única forma de ter acesso
ao vivo fora do Estado de São Paulo. E FIQUEI ESPANTADA COM A SEMELHANÇA da
violência comandada agora pelo governador Geraldo Alckmin (na época vice-governador
do Mário Covas). Parece que ele aprendeu perfeitamente a política do PSDB para
o professor! FIQUEI ESPANTADA COM o avanço do discurso conservador do apresentador
citado, talvez por que ficou mais rico, talvez por que ficou mais famoso ou
talvez por que nada disso importe mais para ele.
FIQUEI ESPANTADA como a Bebel (que
cantarolava o Hino Nacional no microfone enquanto nós apanhávamos) continua desprezível.
Mas
o que mais me impressionou é
ver que apesar de tudo isso, apesar de todas essas adversidades, “Apesar de você” - Bebel e sua corja, diria
Chico Buarque - estavam lá os professores, enfrentando, se mostrando, resistindo,
dizendo que existem e que não vão abandonar a sala de aula e nem a luta. É por que nós existimos que eles se
preocupam tanto. Ainda bem, por que se não: não haveria amanhã.
A cena da "visita" de Mario Covas ao acampamento dos professores na frente da Secretaria da Educação em São Paulo na Praça da República. Atenção para a frase dita por ele após as provocações e o enfrentamento:
"E ainda se chamam de professores, coitados" para desqualificar os que ali estavam.
Citei em aula nesta semana, um trecho em que o Karl Marx fala da sensibilidade humana através do amor e da arte. Percebi na hora a cara de espantos dos meninos. Infelizmente ainda prevalece o pouco conhecimento sobre a obra marxiniana o que gerou inúmeras leituras equivocadas. Além, é claro, das acusações antigas e comuns: o determinismo econômico, o mecanicismo e o etapismo. São análises antiquadas, interpretações reducionistas e que pouco expressam a realidade da obra de Marx.O problema são os usos, leituras e interpretações das obras de Karl Marx, onde os grupos interpretam conforme suas
necessidades e interesses. No Brasil, além disso, conforme afirmaLeandro Konder a teoria marxista no início do século no
Brasil sofreu ainda mais distorções devido o contexto histórico:
“No começo dos anos 30, a
‘recepção’ das idéias de Marx no Brasil se realizava em condições marcadas por
uma conjunção de diversos fatores extremamente adversos, desfavoráveis à
compreensão dos aspectos mais dialéticos do pensamento da filosofia alemã”.
(KONDER, Leandro, (1976) “A
derrota da dialética: a recepção das idéias de Marx no Brasil até o começo da
década de 30”, Editora Campos Rio de Janeiro, p. 19)
De qualquer forma, é bom lembrar que a obra de Marx é sobre nossa humanização, portanto sim, ele busca a explicação do que acontece na vida social, e falou sobre a questão da mulher, da religião, da arte, do direito, da cultura, da filosofia, etc, etc...
O trecho comentado, o amor:
Se
se pressupõe o homem como homem e sua relação com o mundo como uma relação
humana, só se pode trocar amor por amor, confiança por confiança etc. Se se
quiser gozar da arte deve-se ser um homem artisticamente educado; se se quiser
exercer influência sobre outro homem deve-se ser um homem que atue sobre os
outros de modo realmente estimulante e excitante. Cada uma das relações com o
homem - e com a natureza - deve ser uma exteriorização determinada como
vida individual efetiva que corresponda com o objeto da vontade. Se amar
sem despertar amor, isto é, se teu amor não produz amor recíproco, se mediante
tua exteriorização de vida como homem amante não te convertes em homem
amado, teu amor é impotente, uma desgraça.
Para quem ainda não viu o vídeo Saltimbancos - uma parte da série - documentário sobre o Chico Buarque, eu indico. Assisti novamente no sábado no Canal Brasil. Fabuloso.
A melhor parte e imperdível é no fim (aos 53:00) quando ele fala sobre racismo: "As pessoas no Brasil pensam que são brancas..." A risada dele ironizando a classe média que se diz branca é uma delícia!
E evidentemente, as músicas e suas histórias. Algumas lindas canções que descobri foram escritas depois dele observar a relação das crianças com o mundo. E os Saltimbancos!? Até hoje acho que virei comunista por causa dos Saltimbancos! E quando li o Marx pensei: é isso.
Saltimbancos é um dos vídeos da série que Roberto de Oliveira gravou com o compositor Chico Buarque de Hollanda. Nele, Chico fala de recordações, de música e também de política. Conta como se tornou comunista, ainda na infância, ao observar a vida da babá índia que cuidava dele e dos irmãos. E também fala sobre o racismo no Brasil –revela, por exemplo, como, por incrível que pareça, foi alvo de piadinhas preconceituosas quando sua filha Helena se casou com Carlinhos Brown, apenas pelo fato de o músico baiano ser negro. ASSISTA:http://www.youtube.com/watch?v=-eFyfctNMv4
Para quem também não conhece os Saltimbancos: use em sala de aula, monte a peça, analise os personagens e as músicas...o resultado é excelente!
Todos Juntos
Interpretes: Nara Leão, Miucha, MPB-4
(Sergio Bardotti. Tradução e Adaptação de Chico Buarque/1977)
Uma gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bichinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá
Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Uma gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
Esperteza, Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
E no mundo dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós
* Cada bicho representa um sujeito histórico da nossa sociedade.
Tenho amigos negros maravilhosos, inteligentes
e bonitos. Tenho amigos negros safados também. Conheço negro escuro, escurão,
mais claro, marrom. Tenho amigos negros que estão entre os meus melhores
amigos! Tenho amigos que são irmãos. Irmãos de vida, de coração e sentimento.
Tenho amigos que deixei pra lá. Deixei pela vida. Mas tem amigos que a vida
deixou e mesmo assim continuam a serem meus amigos. Independente de quanto
tempo se passou... Tenho amigos nordestinos. Conheço nordestinos de nascença e
por herança. Até namorei um. Tenho amigos gays que sabem e assumem, tenho
amigos gays que sofrem para assumir. Tenho amigos gays que não ligam a mínima
para os outros. Tenho até um que adotou um filho. Lindo! Tenho amiga lésbica
que é feliz e prefere parecer um homem, mas tenho amigas lésbicas femininas,
meigas e decididas. Tenho amigas lésbicas que se descobriram depois de muita
experiência e tenho outras que sempre souberam! Tenho amigos brancos de todas
as variações: branco-neve, branco-amarelado, branco-esquisito e branco-branco e
tenho amigos que quando as veias coloridas aparecem ficam rosados. Eu sou
branca-rosada-amarelada. Conheço branco-branco que casou com negro-negro.
Conheço branco-amarelado que casou com marrom. Vixi, esse tópico não acaba mais por que a gente se mistura mesmo!
Ainda bem!
Tenho
amigo que é branco que parece japonês, mas é brasileiro e dizem na verdade que
o certo é amarelo. Tenho amigo japonês branco-amarelo que vai e volta do Japão
e tenho amigo japonês branco-amarelo que nunca foi ao Japão. Tenho amigos magros e gordos, e também os que
engordam e emagrecem. Conheço amigo magro que casou com gordo e amigo gordo que
casou com gordo. E magro que casou com magro, separou e depois casou com gordo.
Conheço gente que não casou, sofreu e depois resolveu não casar mais. Aí parou
de sofrer. Tenho amigos que tiveram filhos e outros que decidiram não ter. Conheço
gente de todas as religiões: budistas, católicos, católico não praticante,
católico intenso, católico carismático (e alguns não tão carismáticos assim...).
Evangélicos de todas as mais de mil igrejas que conheço e umbandistas também. Conheço
gente do candomblé, exotéricos, muçulmanos, judeus de barriga e convertidos,
testemunha de jeová, seicho-no-ie, ateus, agnósticos. Conheci até um cara do
santo daime. Mas não mudei minhas
convicções por nenhum deles.
Conheço
amigos rabugentos e que a “cara amarrada
é só um jeito de viver na pior”, como diz a letra da música. Tenho amigos
de uma vida inteira. Tenho amigos que em pouco tempo se tornam amigos. Tenho amigo
só pelo computador: das redes sociais ou por e-mail. Porém, pela proximidade de
quem somos a distância desparece! E tenho amigos que não são amigos “de verdade”,
mas as redes sociais classificam assim.
Conheço gente que fez uma burrice na vida, que fez algumas
burrices e outros que fizeram muitas
burrices. Alguns aprenderam que todo mundo erra e aprendeu a perdoar para ser
perdoado. Conheço gente que quando magoado não perdoa nunca mais e ninguém. Tem
medo de perdoar e fazer papel de tonto! Tem gente que não perdoa porque diz que
nunca é perdoado. Mas talvez na verdade é que não consiga se perdoar também...
Conheço gente atrapalhada. Vive na confusão e dando jeitinho. Conheço gente
sempre certinha. Conheço gente com mania de limpeza. Conheço gente que vive na
desorganização e tudo bem. Tenho amigo reacionário, não convivo, mas tenho.
Tenho amigo preconceituoso – aguento por um tempo e tento ajudar na mudança. Se
não dá, deixo pra lá. Tenho muitos amigos militantes. Que acreditam numa causa
e lutam. Esses são feras. Tenho
amigas que são pra qualquer coisa a qualquer hora, às vezes damos um tempo e
depois tudo é como sempre foi. Tenho até amiga que entra na “ostra”, mas depois
sempre volta. Conheço gente que veio pra brilhar: todo mundo adora e onde passa
faz sucesso. São na maioria professores e artistas. Conheço gente antipática,
que pra conquistar precisa de um tempo. Conheço gente teimosa. Xiii! Conheço bem...
Conheço gente que odeia berinjela (eu, por
exemplo) e conheço gente que adora. Conheço gente com muito cabelo, pouco ou
sem nenhum, careca mesmo. Conheço gente que adora plástica, tecnologia e
modernidade e tenho amigos que odeiam tudo isso. Conheço gente que adora – e por que o tempo passa - adorou acampar
e viver a natureza: mato, cachoeira e praia deserta. Eu vivi muito isso. De
trem em trem com muitos amigos. Mas tem gente que só gosta de shopping: um bom
restaurante, um cineminha e uma boa conversa fora com café. Adoro isso também!
Também conheço gente muito-muito bonita, de dar gosto. Conheço gente mais ou
menos ou comum. Conheço gente feia também. Mas
tudo depende da época: tem gente feia que virou bonita - o contrário também - por que quando o
tempo passa as coisas mudam e a estética também! Tem gente que eu acho linda e
os outros acham feia... vai entender? Tenho amigos que adoram música, tem
milhares de discos e tem um gosto fabuloso. Conheço gente que não gosta de
samba, não gosta de rock ou não gosta de MPB. Conheço muita gente que não gosta
de sertanejo, esse novo, não aquele bom e velho de raiz. Conheço gente que bebe
um pouco, que não bebe nada, gente que bebe socialmente e gente que bebe
muito.... Até não se reconhecer mais!
Conheço palmeirense,são paulino, santista, gremista,
colorado, gente até que torce pro Juventus da Itália e Juventus da Mooca.
Conheço gente que não torce pra ninguém e não gosta de futebol. E gente que só
torce pra seleção brasileira ou argentina. Ah! E conheço muitos corintianos....
Eu, por exemplo, né? Tem amigos que adoram praia, outros o mato, e outros ainda,
os dois. Tenho amigos urbanoides. Tenho amigos comunistas. Tenho alguns
capitalistas por convicção. Mas a maioria nem sabe o que isso tudo quer dizer
de fato! Não tenho nenhum amigo nazista, fascista, skin-red, integralistas ou
qualquer porcarias dessas. Mas os conheço. Às vezes tive que explicar por que
não podiam ser meus amigos: não é questão
de diversidade e sim de incoerência. Tenho amigos varguistas, lulistas,
chavistas, brizolistas e infelizmente stalinistas, mas com estes, não convivo
também. Tenho amigos que gostam muito de mim, outros mais ou menos e outros que
me demitiram pra sempre. Você já foi
demitido por um amigo? É triste, mas compreensível, às vezes a gente pisa
na bola mesmo. Mas tenho amigos (uma meia dúzia) que se me demitir vou de
joelhos implorar perdão...porque sem
esses eu não vivo! Não tenho amigo que se “foi” e nem quero pensar em como
vou reagir quando isso acontecer!Tenho
amigos que eu nem sei que sou amiga, mas me consideram assim.
No ano
que vem comemoro 20 anos de sala de aula. Tenho alunos de todos os tipos: os
que me amam ou odeiam. Tenho os que me odiaram e um dia passaram a amar (acho
que o contrário também). Não tenho ex-alunos. Tenho os que me acompanham há
muitos e muitos anos. Que viraram amigos e tenho os que de longe ainda me admiram. Conheço gente de muitas tribos, intelectuais, indígenas, comerciantes,
estudantes, músicos, operários, advogados, artistas, professores, jornalistas, camponeses,
ecologistas, homossexuais, feministas, pacifistas, comunistas. Nas minhas andanças
conheci gente sem casa, sem comida, sem esperança. Na Amazônia conheci gente
que nunca andou numa escada rolante ou num elevador. Que nunca viu um prédio
com mais de três andares e não conhece o mar.
Tenho amigo branco, baixo, negro, gordo,
marrom, nordestino, alto, gay, bonito, amarelo, feio, ateu, misturado, lésbica,
religioso, diferente, igual, politizado e os “não tô nem aí”. E todos eles
pertencem ao mesmo mundo imperfeito que temos. Tenho tantos amigos diferentes que
é impossível pensar igual a todos e por isso acho que são meus amigos. Tenho até
amigos não humanos: meus cães, gatos, cactos e livros. Estes me acompanham onde
quer que eu vá!
E ao pensar em tudo isso aqui fico feliz!
Apesar
de tudo, é nesse mundo diverso que eu
vivo e luto pela diversidade humana.
Como diz o Subcomandante Marcos (muitas vezes citado) “a humanidade vive no peito de todos nós e, como o coração, prefere o
lado esquerdo”
Viva
o pluralismo, a diversidade e a humanidade!
Um abraço de amiga.
“A dignidade é essa pátria sem
nacionalidades, esse arco-íris que também é ponte, esse murmúrio do coração sem
importar o sangue que o vive, essa rebelde irreverência que burla fronteiras,
alfândegas e guerras.A
esperança é essa rebeldia que rejeita o conformismo e a derrota” (Subcomandante Marcos - EZLN)
Acervo digital disponibiliza toda a obra de Paulo Freire. Estão disponíveis para
download gratuito vídeos de aulas, conferências, palestras, entrevistas, artigos
e livros do educador".
Em conversa com os meus alunos de América IV, chegamos a triste constatação (mais do que conhecida) de como nós brasileiros desconhecemos a História dos países latino-americanos, desconhecemos a cultura e realidade de nossos vizinhos, e pior, somos preconceituosos e abusamos dos esteriótipos, assim como muitos europeus e estadunidenses fazem com a gente.
Isso tem origem em uma série de questões mas principalmente em como tratamos a História da América no ensino de História. Para tentar amenizar essa falta de entendimento crônico sobre nosso continente a única forma é correr atrás do tempo perdido. Acaba de sair um livro que certamente contribui para sanar a ignorância nossa de cada dia...
Para quem só consegue pensar o Paraguai como lugar de compras e sacoleiros, vale a pena ler o livro do meu amigo MARIO MAESTRI. O conheci justamente em Asunción, capital triste e alegre do Paraguai, lugar de muitas contradições e povo mais do que receptivo. Queira você ou não somos todos latino-americanos e a nossa luta é a mesma.
Indicação:A Guerra no Papel: história e
historiografia da guerra no Paraguai. Porto Alegre: FCM Editora; Passo Fundo,
PPGHUPR, 2013. 334 pp.
Nos dias 27, 28 e 29 de Maio, será realizado pelo Departamento de História e Ciências Sociais da UFG de Catalão, o I Simpósio Nacional de História: Teoria, Memória e História. Teremos a presença do Prof. Francisco de Oliveira e do Prof. José Carlos Reis.