Reconheço que não sou uma
filha muito comum, com aquelas costumeiras falas sobre as mães. Não acho que mãe é tudo igual, só muda o endereço.
Não acredito em instinto maternal só por que ela tem útero. Não acho que é forte e aguenta qualquer coisa. E
todos esses ditos populares que se
repetem nessa época. Esses são poderes quase sobrenaturais. Mães são
diferentes, por que são mulheres com individualidade. Conheço mulheres com
útero que são péssimas mães, e outras com útero que seriam excelentes. E seres
humanos têm limite, nem tudo é possível.
Para completar, não acredito que seja preciso
de uma data comercial para comemorar o seu dia. No entanto, é fato que a mulher
enfrenta um grande acumulo de funções e sua multiplicidade de papéis faz com
que ela ganhe mesmo ares de heroína. Mas não são. Acreditar em super poderes é
retirar aquilo que é mais importante nessa história: antes de serem mães, são MULHERES.
Minha mãe, como
outras mães que eu conheço, NÃO NASCEU MÃE. Aprendeu na raça, na vida,
acertando e errando. Foram cobradas pela sociedade. Apesar dos nossos inúmeros avanços,
as conquistas foram se somando. As transformações foram muitas, consolidou-se
uma nova identidade feminina, com direito a dirigir, votar, fumar, vestir
calças, trabalhar, se eleger, essas coisas que os homens nunca tiveram que
lutar para ter. No entanto, juntou-se a isso as outras funções consideradas “naturais”
das mulheres: a casa, a louça, os filhos. Ah! Sim, os maridos mais
progressistas dizem que ajudam as suas mulheres. AJUDAM, por que a obrigação é
delas, eles podem é colaborar um pouquinho...
Mas elas, tenho que
reconhecer, dão conta do recado. Amor e dor caminham juntos. Nós, os filhos, (e
todos somos) entramos em pedir licença, sem cerimonia nem cuidado. Chegamos
revolucionando tudo. E ela? Tem de se virar.
Minha mãe foi se
virando em cada fase completamente diferente de nossas vidas. E o meu
sentimento por ela também foi mudando a cada época e situações inesperadas. Mudamos
o tempo todo. E nossas mães? O que resta fazer? Mudam também.
Tem que aguentar
aquela criança irrequieta ou aquela sempre doente. Aquele ser que dá trabalho
pra comer ou pra estudar, ou pior, os dois. Aquele adolescente chato que acha
que o mundo é seu ou aquele que não se acertou no mundo. Tive lá meus momentos “eu
odeio minha mãe”, principalmente quando ela me proibia de alguma coisa ou fazia
qualquer outra coisa na frente dos meus amigos. Mas preciso confessar que minha
fase de “conflitos na adolescência” não durou muito. Acho que resolvemos isso
fazendo o que gostávamos: eu trabalhava e acampava e ela fazia chocolate! Mas
prefiro deixar essas questão - conflito mãe e filha - para meu inseparável
amigo de terapia explicar, Freud, é claro.
Eu vou falar uma
coisa: minha mãe nesse quesito, adaptação às circunstâncias dadas, é a número
1. Passou por todas as fases com três pessoas completamente diferentes. Sem
nenhum manual e explicações de fábrica. E hoje ela carrega experiência, lembranças e uma vida repleta de
gente que a adora.
Eu? Bom... eu só me
lembro do companheirismo. Assistindo nossos seriados juntas (não perdemos um
capítulo de Anos Incríveis na TV Cultura) ou qualquer uma daquelas coisas
gostosas do cotidiano que a gente só percebe o quanto é bom depois que passa!
Só me lembro da
cumplicidade. Da confiança, da compreensão e da troca sutil de admiração. Aquele
sentimento reconfortante de que posso contar para qualquer coisa e que só de
saber que ela está por ali, já tá bom. E
depois de um tempo longe, a saudade que sinto, como diz o poeta Chico Buarque, “dói latejada, é assim como uma fisgada”
Ela me ensinou, talvez
sem saber, a ter RAÍZES E ASAS. Raízes
para lembrar de onde eu vim e quem eu sou. Asas para ir por aí descobrir o
mundo e ir além. E eu fui. Obrigada, mãe.
Se minha mãe aprendeu
a ser mãe??? AH! Hoje ela é professora.
Lindo!! Espero poder ensinar isso para a minha filha, a ter Raízes e Asas... Perfeito!!
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