sábado, 18 de maio de 2013

Liberdade e Direito da Mulher: o caso da Angelina Jolie e o discurso machista nosso de cada dia


(ou, Cuidado com o que você pensa)
Esta semana o ato da atriz Angelina Jolie – uma dupla mastectomia  preventiva – e se  tornou alvo das opiniões da pessoas, “ossos do ofício”. Se fosse comigo, poucos ficariam sabendo e facilmente faria o discurso de que ninguém tem nada haver com minhas ações e decisões. Muito utilizado hoje esses refrões neoliberais do individualismo: “Deus deu a vida para cada um cuidar da sua” ou “cada um no seu quadrado”... No entanto, como se trata de uma figura pública, e pior, uma atriz hollywoodiana, todo mundo quer dar o seu pitaco.
 Um jornalista raivoso a chamou de cretina, irresponsável e o seu texto, publicado no New York Times (que ele chamou de “pasquim”), de macabro. Ah! E a nós que apoiamos o ato da atriz de idiotas. Tive acesso a esse texto machista e conservador desse tal de André Forastieri pelo Facebook. Ao que parece, jornalista muito lido, apesar de ser um ilustre desconhecido para mim. Ainda bem! De Reinaldos Azevedos e Diogos Mainardis minha vida já está repleta. Obrigada. Porém, como vi muitas pessoas seguindo o seu raciocínio fiquei preocupada. Perguntei-me:  será que as pessoas estão concordando simplesmente por ser muito fácil falar mal dessas super atrizes que fazem tudo pela beleza? É fácil criticar as que exageram para ficar em evidência na mídia e abusam das plásticas para continuar jovens e exuberantes.
Eu mesma já destruí em sala quase todas as divas “irreais” hollywoodianas. Mas neste caso discordo radicalmente de tal jornalista e da opinião pública que o seguiu. Primeiro que o texto é conservador e retrógrado com pitadas de machismo rasteiro. Considero o que ela fez exatamente inverso do que ele aponta. Ela abriu mão da estética e teve que fazer uma cirurgia para reconstrução dos seios. Isso tem um impacto violento na feminilidade da mulher, é notório o relato de mulheres que já doentes – que além de sofrerem com o medo e a incerteza do câncer - ainda tem que tirar os seios. Muitas vezes não querem mostrar mais o corpo, negam-se a fazer sexo com os maridos, se retiram da vida social mesmo depois de reconstruir os seios. Portanto, ela abriu mão da vaidade. Difícil de ser ver nesse meio.
 O problema é outro, a questão de fato é que todas as mulheres deveriam ter acesso para decidir fazer ou não. A questão reside, infelizmente, no custo de ação preventiva, um médico oncologista disse que o valor de um exame para saber o percentual de chance de desenvolver câncer  e se há alguma mutação genética (caso da atriz) no Brasil é de 8 mil reais. Ora, quem tem esse valor apenas para um exame?  Além disso, o procedimento cirúrgico é caríssimo, não coberto pelo plano de saúde e muito menos pelo SUS. Assim, não temos direito de escolha, porque como muitas coisas na nossa sociedade, essa ação preventiva é para poucas.
Ela tem seis filhos para criar, foi uma decisão acertada. O argumento principal dele é que o “tratamento não era necessário porque ela não estava doente” e que as mulheres (todas) tem em média 12% de chance de ter câncer de mama na vida. Sim, por isso tratamentos preventivos são fundamentais. E se apenas os exames comuns não dão conta, que usemos outras ações.Por isso, alguém que apresente o histórico familiar dela e 87% de chance desenvolver o câncer tem que se prevenir. Por isso que todas nós devíamos ter acesso e o direito de decidir. Evidentemente é uma ação extrema e só recomendada para casos específicos, como o dela. Mas diferente do Sr. André, o tal jornalista, aqui o texto é para reflexão e nem todo mundo precisa concordar, apenas ter argumentos menos esdrúxulos.
O que mais me incomoda é o mesmo e velho discurso usado para vários temas: ela vai induzir as mulheres, vai incentivar as mulheres, ou como nas palavras do tal jornalista “as mulheres serão tentadas ou pressionadas a seguir seu exemplo”.  E lá vamos nós..., se liberar o aborto todas as mulheres vão abortar, se aceitarmos o homossexualismo vamos influenciar os meninos a virar gay e assim por diante.... Não! As coisas não acontecem assim, mas há séculos a sociedade patriarcal se acostumou a escutar o discurso dos homens sobre as questões dos gays, das mulheres...  a ponto de que até as mulheres reproduzem as mesmas visões. De que ela frágil, de que tem que apanhar calada por que ele é o marido e sempre está certo ou só estava nervoso! De que lugar de mulher é dentro de casa, de que ela lava à louça por que isso não é coisa de homem! De que ele decide quantos filhos irá ter! E agora, até se ela deve ou não se prevenir de um câncer iminente!
Estamos falando em liberdade de escolha. Em direito de escolha. Se minha mãe tivesse morrido aos 56 anos dessa doença, se eu apresentasse essa mutação e quase 90% de chance de desenvolver um câncer, mesmo tendo "saúde perfeita agora" como diz o tal jornalista, eu faria sem medo, ou com muito medo. Mas dane-se a estética. (E não seria nenhum homem, sem seios, sem útero que me diria o que é certo fazer, vai fazer um Papanicolau Sr. André).
Parabéns Sra. Jolie. Ah! E minhas recomendações ao Sr. Pitt...

9 comentários:

  1. parabens Sra Jolie mesmo...atitude nobre...... ate entao eu nao tinha sabido do que realmente se passou.....foi informativo para mim.....

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    1. A discussão é ótima, nos faz sair do comodismo que é ter uma postura petrificada e pensar novas possibilidades para uma mesma questão. A vida é dela, com certeza, ela influencia outras mulheres, sim.Concordo com a Lilian quando diz que ela tem o direito de fazer o que achar ser melhor para ela, através do que acredita. Não é assim que todos agimos? De acordo com o que acreditamos? Pessoalmente não acredito é na eficácia do procedimento. Tá bom, 90% e tal. Mas, e os outros problemas, outros cânceres, me preocupo com a excessiva crença de que a ciência, suas possibilidades vão dar conta de tudo, se assim fosse já teríamos pessoas sobrevivendo pelo menos até os duzentos anos. Para mim discussão maior (e melhor) seria que ela fez o que acreditava ser certo, devemos respeitar o seu direito, o dito jornalista tem o direito a fala(mesmo que não concordemos com ela). Será que ele tem o "poder" de convencer com esses argumentos? Se sim ele está utilizando o que ele critica no caso Angelina em seu favor. Ele também é uma figura pública e usou esse assunto para influenciar se não o mundo a fora, porque se não fosse essa discussão nem saberia da sua existência, mas ao menos os seus leitores. O bom é podermos fazer leituras variadas, mas nunca esquecermos de que o direito primordial que devemos ter é o da liberdade, se der com responsabilidade.

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    2. É isso mesmo. O direito de decisão é dela e de mais ninguém. No ponto eficácia. Acho que só podemos "combater" - ou neste caso prevenir- aquilo que é conhecido e onde a ciência pode intervir. Outros casos, outros cânceres não é possível - infelizmente. Ainda, quem sabe não se descubra uma forma de destruir as células cancerígenas, não sei....Agora, ela fez a prevenção naquele que é quase certo.

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  2. E gente como ele vai formando opinião,e sendo reproduzido por outros homens machistas!!!

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    1. Sim. Ele combate a atriz por ser uma pessoa pública e influenciar! Ora, é exatamante o que ele fez. Pra pior.

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  3. Como é bom ler um texto como esse. Adorei. Parabéns a Sra Jolie e uma vaia imensa para esse cidadão reprodutor de grandes bobagens.

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    1. E muitos ao ler o jornalista acabam por ser "abocanhados" por seus argumentos. por isso que reflexão é tão importante...

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  4. Ela conseguiu ir além da vaidade para tentar não desenvolver uma doença tão grave como o câncer já que ela tinha essa possibilidade, e assim evitar sofrimento, desgaste familiar a até mesmo a morte e o tal jornalista a chamou de cretina, irresponsável e quem a apóia de idiotas?? Acredito que esses adjetivos que ele usou se encaixam perfeitamente a ele mesmo, apenas mais um jornalista querendo chamar a atenção e influenciar os desprovidos de bom senso e respeito pelas escolhas de cada um.

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